quinta-feira, 21 de julho de 2016

A dónde volver, la poesía peruana de Andrea Cabel

Andrea Cabel
A dónde volver
México, Paroxismo, 2016
84 págs.




Andrea Cabel (Lima, 1982) se dio a conocer en la poesía hace más de una década (Las falsas actitudes del agua, 2006), pero su voz había permanecido en silencio largos años hasta llegar a la madurez poética que supone A dónde volver (2016), una suerte de poemas reunidos que son una unidad de obra compuesta por lo que hubo antes, lo que ha habido mientras y lo que se apunta hasta lo próximo.

Del mismo modo que en este lado del Atlántico existen nuevos nombres (Luna Miguel, Laura Rosal, Carmen Crespo, Alicia Reina…) que empiezan a convivir estéticamente y con normalidad con voces de largo alcance y público fiel (Ana Merino, Yolanda Castaño, Vanesa Pérez-Sahuquillo, Ana Gorría, Estelle Talavera…) en una mezcla de voces que la periodista Marta Semitiel ha sabido estudiar con precisión y capacidad crítica, más allá del Océano que separa el mundo hispánico hace precisamente más de una década que el fenómeno se daba en idéntica proporción. De tal suerte que hace ahora diez años leí por vez primera a Andrea Cabel, a la que conocí en Madrid y en interminables llamadas telefónicas (Madrid-Lima) que, de haber sido grabadas, habrían dado para un libro de lo que fue de nosotros y de las letras cuando éramos jóvenes.




Andrea es el verbalismo directo, la ruptura del poemario convencional para experimentar la forma, el fondo y la edición (¿Cómo César Vallejo?); es el decir de una forma que no se decía en el Perú desde el ‘realismo mágico’ o ‘boom’; Andrea es el caligrama, el paratexto, la fuerza narrativa llevada a la poesía; Andrea es la pasión de sus temas personales expuestos en carne viva al público-lector: el amor, el desamor, la desazón, la desolación, la pasión…; Andrea es el verso en prosa y la prosa en verso: es lo que dice y cómo lo dice.

Me acerco ahora a este nuevo poemario que me sorprendió hace quince días y asisto a la máxima expresión de la autora, a la madurez de un proceso creador que nunca había parado. Bien es cierto que me paro detenidamente en el apartado que da título al conjunto, A dónde volver, con poemas como “Volver”, “once”, “habitación 309”, “patafísica”… y siento que he vuelto sobre los orígenes de la poeta, de las aquellas conversaciones sobre letras hechas poesía.

El poema que lleva por título ‘Howard in Waterworks’ resume la esencia poética de Andrea Cabel; no sólo la poeta que fue hace diez años, sino las inercias continuadas en su estilo, con la profundidad de la observación y de la palabra escogida con tiento y precisión. En este inédito (págs. 76-77), lo cotidiano se convierte en materia poética: el estilo directo (“vendí por ejemplo, nuestras conexiones a distancia”), el verbalismo directo presiden la composición (“entre la lluvia y la muerte he vendido nuestras cosas”). El poema, cuya impronta es una inteligente y elegante ruptura del poema y poemario tradicionales, mantiene una vanguardista ruptura con la puntuación tradicional, a la que quizás contribuye el encabalgamiento abrupto que supone todo el conjunto. Ese subjetivismo cotidiano (en el decir, en el nombrar y, sobre todo, en el cómo decir) acercan la palabra, la introspección de la poeta al lector: probablemente un hecho cotidiano (¿una ruptura?) se convierte aquí en una fórmula para nombrar, para componer este inédito que señala que “comienzo a morder la distancia de esta palabra suspendida”. Es cierto que me detengo en este poema, pero todo el libro, una gran agrupación de poemas vitales, vitalistas y ejemplificadores de la poesía de Cabel, viene a responder, además, a una poesía urbana, inteligente y cuidada.


A veces resulta complejo elegir qué voces o qué narradores de Hispanoamérica escoger, entre esa enorme proporción de escritores y poetas que, junto con nosotros, conforman la Literatura de 550 millones de hablantes. Hoy no puedo dejar de pararme y recomendar a Andrea Cabel y su A dónde volver. Simplemente, volver al poema.

Autor: Francisco José Peña Rodríguez (Universidad Autónoma de Madrid)

segunda-feira, 18 de julho de 2016

21 Gramas: um texto belo, raro, indispensável, guerreiro e lírico.

Márcio Vidal Marinho, nascido e criado no Jardim Ângela, descobre o poder da palavra e sua magia na adrenalina poética que rege os encontros da Cooperifa.
Daí em diante, Márcio torna-se além de autor de uma poesia que surpreende  - e nos atrai irremediavelmente para um imaginário de alta densidade lírica e histórica, - um estudioso  da arte da palavra. Vai fundo e torna-se mestre pela USP discutindo a chave de sua estética: a poética da literatura periférica e a tradição literária brasileira. Tanto seus estudos  quanto sua poesia traduzem precisamente  esta tensão entre o novo e a tradição, entre a História do passado e os duros tempos de violência e desigualdade em que vivemos. 
É assumindo este caminho,  que 21 Gramas produz  um texto poético complexo, onde o passado e o presente históricos se superpõem em camadas de forte interlocução, e onde, ainda em registro polifônico, radicaliza-se permitindo que os duros tempos atuais de violência e desigualdade interpelem os ecos da História da escravidão no Brasil. 
Tecendo este imaginário, perguntas tornam-se leitmotiv em 21 Gramas.  A mais altissonante delas  coloca  uma questão que aqui torna-se epistemológica: “O que será um negro?” Que sentidos históricos, políticos, atávicos se enraízam nesta pergunta?  Pergunta que se desdobra e expande no poema  “Velho canto brasileiro”:
“A única palavra que ouço/Mas não entendo/É negro,
/
Negro, negro….Deve ser o que nos espera à frente /
Deve ser a morte
/O ódio
/O que é um negro, Zaci?”

Uma pergunta que ainda neste poema costura em pontos finos e entrelaçados uma guerra resiliente, que traz de volta a dor da diáspora agora sob “o engatilhar /de uma doze”.
Sua poesia  pulsa, num cenário de ferros e correntes, de mãos atadas, de brados guerreiros abatidos por esta dúvida que não se deixa calar.
Dúvida traçada por vozes inaudíveis, por sons inaudíveis, por palavras inaudíveis (sic, poema “No voice”). Mas que  persiste e se espalha pela margens da cidade  que  “Trazem as histórias do século XX
/ E o desprezo do XXI.” 
A poesia de Márcio Vidal Marinho nos proporciona um texto belo, raro, indispensável, guerreiro e lírico. Nos apresenta a poesia negra moderna e erudita de um tempo, como disse o poeta,  em que “os navios não são mais negreiros”.

Em 2015, 21 Gramas, recebeu, como trabalho inédito, Menção Honrosa, no 23° Programa Nascente da USP. Agora publicado, vai se tornar uma referência importante no panorama aquecido da nova poética da periferia. 

21 Gramas tem data marcada para seu lançamento. Dia 13 de agosto.
Estamos todos convidados!

Heloisa Buarque de Hollanda
Ensaísta, escritora, editora, crítica literária e pesquisadora brasileira. É autora de muitos livros, entre eles, Macunaíma, da literatura ao cinema26 Poetas HojeImpressões de ViagemCultura e Participação nos anos 60Pós-Modernismo e PolíticaO Feminismo como Crítica da CulturaGuia Poético do Rio de Janeiro; Asdrúbal Trouxe o Trombone: memórias de uma trupe solitária de comediantes que abalou os anos 70; ENTER Antologia Digital e Escolhas, uma autobiografia intelectual.



sexta-feira, 1 de julho de 2016

América Latina: Um eco literário

Discurso para lançamento de Daqui e Dali, por Robson Di Brito.



Discurso proferido no Lançamento da Antologia Poética “Daqui e Dali”, promovido pelo Programa Ecos Latinos.

Os mitos foram formados por seres espectrais que os traduziram em palavras, e foram todos situados em terras mágicas entre o humano e seu imaginário. Neste ápice da gênese literária humana, os povos autóctones Daqui e Dali criaram lendas que ainda nos intrigam.

Desta forma, constato: nós, América Latina, somos a pulsação da literatura. Antes mesmo de sermos bombardeados pela disciplinadora ciência, pela gananciosa ambição comercial, pela concupiscência política, pelo acaso do achado de terra, dito pelos europeus – somos literatura!

Depois, mais metafísica mitológica se imiscuiu em nossas terras. E abaixo do estalo arregimentado do sofrimento, o negro pintou a América, do norte ao sul, de mais mitos. Diante de tal espetáculo secular que enoja e inebria – não é à toa que o desenvolvimento da identidade americana, e aqui destaco, da América latina – é um dos principais fatos da idade moderna e significa um dos maiores desafios já apresentados à imaginação criativa.

As cartas, diários e literatura informativa estão repletos de fascínio e imaginação, que este “jardim do Éden” ou entrada dantesca para o inferno, produziu nos exploradores colonizadores. Comandamos os desejos, inventamos salvações e condenações para qualquer fuga que possa existir “extra-literatura”.

Assim em pleno desenvolvimento do século XX, enclausurados na tradicional literatura; como bravos descendentes de bárbaros (em seu sentido mais sublime) abrimos espaço para uma nova escrita. Emergimos de nossas experiências, que ora tangem nosso sexo, nossas dores, nossas alegrias e nossas esperanças – e num caldeirão formamos a literatura fantástica.

Sensíveis ao revés do tempo e do espaço, observadores perspicazes que somos, lançamos em literatura o espirito crítico, mas sempre envolto na sátira – porque sabemos sorrir e gargalhar, como ninguém no globo terrestre.

Como esquecer as elevações da imaginação subjetiva do romantismo de Simon Bolívar? E quando pensaríamos que um mestiço, autodidata, na margem da sociedade cunharia um dos maiores enigmas que a literatura produziu? Afinal, apenas Machado de Assis poderia nos afirmar: Capitu traiu ou não Bentinho?

Não saberíamos o que é o continente sem os cantos históricos de José María Heredia. E nossos costumes como americanos, quem foram os primeiros a registrar-nos? Não foi Darwin, já desconstruo seu “eurosonho”. Foi o mexicano José Joaquín Fernándes, o peruano Ricardo Palma, o argentino José Hernándes, o brasileiro José de Alencar, o equatoriano José Joaquín de Olmedo. Estes nos representaram antes mesmo que esta palavra ganhasse força na nossa contemporaneidade.

E como esquecer delas? Aquelas sensíveis mulheres que adentraram a alma e nos revelaram o que de mais fundo a literatura pode ir. Sem findar-se em fim. Seria muito estupido de minha parte não recordar as dicotômicas poesias da cubana Gertrudis Gómez. Ou as secas, mas quentes poesias da peruana Clorinda Matto. As modernas combinações linguísticas da uruguaiana Delmira Agustini, da argentina Alejandra Pizarnik. Os dilemas dos povos indígenas ganharam corpo na “multiescritora” mexicana Rosario Castellanos. E aqui, no Brasil, sobre palanques onde homens ditaram regras, ela se lançou como Pagu. Patrícia Galvão elevou o feminismo brasileiro para um patamar nunca visto: a literatura.

Outros tantos e outras tantas que nos invadiriam com suas palavras formaram o que chamamos de literatura latina americana. E hoje estamos aqui, nós, propensos autores descendentes desta safra genuína de grandes palavras.

Daqui e Dali; é muito mais que uma coletânea de poemas. É o grito guerreiro de um povo que emerge banhado pelos Oceanos Pacífico e Atlântico sul. Somos a forma da resistente, que mesmo diante do humor inglês que impera em nossos dias, ainda gargalha das vicissitudes que apenas a terra vermelha da América pode nos dar.

Somos mulheres e homens, moldados, mudados e transmutados pelos domínios surdos do controle econômico, mas que não se permitem deixar de criar. Somos o silêncio da desigualdade que escandaliza. A opressão das vozes seladas pelo poder – mas que se escancaram na literatura e bradam contra seus tosquiadores.

Esta noite, somos literariamente a voz da literatura latino americana.

Obrigado ao projeto Ecos Latinos por proporcionar tão sublime trabalho. Obrigado autores por impregnar nesta coletânea sua alma, e elevar sua voz. Parabéns àqueles que lerem este livro, você está recebendo a moderna alma latina em forma de literatura.

Muito obrigado.

Robson Di Brito

Pesquisador de literatura afro e afro-brasileira pela UFVJM. Organizador da coletânea de poemas “Iluminatus”, por Clube de Autores, 2013/SP. Coautor de “É duro ser Cabra na Etiópia” (Contos) com edição da atriz Maitê Proença, por Editora Agir, 2013/RJ. Autor de “Relacionamento com uma gata” (contos-crônicas), por Clube de Autores, 2014/MG; “A voz de Tina” (peça teatral), por Clube de Autores, 2015/MG e Mãe, Pai e Lógunède (Poesia), por Clube de Autores, 2016/MG.