quarta-feira, 17 de julho de 2019

[Ensaio] A solidão entre nós


Se a solidão tivesse uma cor, que cor daria a ela? E se ela pudesse ter uma forma, que forma daria a ela? Hum, e o cheiro? E o gosto? Pois bem, ainda que me respondesse essas perguntas, outras perguntas surgiriam. A solidão tem a cor da espera, a forma do nada, o perfume do ontem e o gosto do vazio. Ela sorri maliciosamente quando você se desespera com a espera dos sonhos seus perdidos. Ela devora a sua esperança do talvez e carrega no olhar as cores frias da ilusão. Ela sabe...de todos os seus amores contidos e abandonados.
A solidão tem o nome da música, a solidão tem o nome da sua dor. E pode ter certeza ela está bem ai do seu lado, a espreita, sorrindo maliciosamente aguardando você de braços abertos, e quando você chorar ela vai abraçar você, e quando você sofrer com uma decepção ela vai estender-te as mãos.
Solidão é olhar para o telefone, ansioso por um chamado, e ele permanecer mudo.
Solidão é não ter com quem brindar um acontecimento especial, é sentir frio e não ter um abraço para aquecê-la.
Solidão é querer dormir muito, pra não ter a consciência que se está só. E não ter alguém a quem desejar bom dia, ao acordar.
Solidão é sair de madrugada tentando encontrar alguns conhecidos pra desabafar, é ouvir uma música e não ter a quem associá-la.
É ler o jornal durante as refeições por não ter com quem conversar.
É ver que suas correspondências se resumem a cobranças e extratos bancários.
É ter somente um prato a mesa durante as refeições.
É não ter quem lhe impeça a covardia de cometer o suicídio.
A solidão esperança faz você escravo do nada, do nada que dói. Aproveite este momento e beije a solidão, divida com ela esse gosto amargo em sua boca, brinda com ela esse momento e depois durma, sonhe com esse talvez, sinto o prazer de ainda estar vivo, de ainda poder sonhar. E eu estarei aqui, velando pelo teu sono e aguardando pela chegada de um novo dia, boa noite solitário, pois eu a solidão, estarei aqui, sobrevivendo dos seus sonhos. Boa noite.



Fábio Rocha
Psicólogo organizacional, escritor, ator e coreógrafo. Atuante nas mais diversas manifestações artísticas, culturais.
Integrou a oficina de atores do teatro Clara Nunes na cidade de Diadema em 1997 com participação em festivais nacionais de teatro tendo sido premiado como melhor ator revelação.
No carnaval já coreógrafos várias escolas de samba do grupo especial e acesso e atualmente ocupa o posto máximo na folia paulistana é o Rei momo do carnaval.