ARTE DE AMAR
EXPRESSA NA POESIA DE FLORBELA ESPANCA
ANA PAULA
QUINTANILHA BASTOS DE JESUS
Resumo: O presente trabalho
tem como objetivo principal destacar a forma artística que Florbela utiliza em
suas poesias com profunda riqueza interior, e que fez poesia de sua experiência
de mulher, e assim apresentar uma breve análise crítica reflexiva sobre a
utilização da arte em suas poesias ardentes, marcada pela presença do erotismo
sincero e ousado para o seu tempo. Assim tomará como objeto de estudo a arte de
amar na poesia de Florbela, sendo esse um estudo para conhecê-la melhor e
profundamente.
PALAVRAS-CHAVE: Arte.
Poesia. Mulher.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O amor tem sido
usado muito, como forma de arte literária por muitos poetas inclusive Florbela
Espanca utiliza essa forma artística no decorrer de sua vida. Se o amor foi, e
continua sendo tema central de discussões não só na literatura, como em várias
áreas do conhecimento. No entanto, esse trabalho abordará prioritariamente a
arte de amor como temática de estudo presente em algumas de suas poesias.
“A vida é
sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a
moldura é que é diferente. ”
(Florbela
Espanca)
“Minh’ alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim! …”
INTRODUÇÃO
Esse
trabalho tem como objetivo apresentar de forma crítica-reflexiva a maneira
artística que Florbela Espanca utiliza em suas poesias a forma artística das
palavras em relação ao sofrimento e solidão.
Além
de estudar a obra poética, foi levantada a cronologia de suas obras e dados
relevantes sobre sua biografia. A veemência passional da sua linguagem marcante
idiossincrática, centrada nas próprias frustrações e anseios, é de um
sensualismo muitas vezes erótico. No entanto, esse trabalho abordará prioritariamente
como temática de pesquisa a busca incessante do amor incondicional presente em
algumas de suas poesias.
“Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e
toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
“
(...)
O
trabalho iniciou-se com a cronologia e curiosidades sobre a vida de Florbela
Espanca, juntamente com a bibliografia da poetisa, Em seguida será analisada a
forma artística que Florbela utiliza as palavras em sua poesia.
1.
BIOGRAFIA
E CRONOLOGIA:
BIOGRAFIA
QUANDO TUDO ACONTECEU... 1894: A 8 de Dezembro, nasce Florbela Espanca em Vila Viçosa. - 1915: Casa com Alberto Moutinho. - 1919: Entra na Faculdade de Direito,
em Lisboa. - 1919: Primeira
obra, Livro de Mágoas. – 1923: Publica o Livro de Soror Saudade. – 1927: A 6 de Junho, morre Apeles,
irmão da escritora, causando-lhe desgosto profundo. - 1930: Em Matosinhos, Florbela põe fim à vida. - 1931: Edição póstuma de Charneca em Flor, Reliquiae e Juvenil ia e ainda das coletâneas de contos Dominó Negro e Máscara do Destino. Reedições dos
dois primeiros livros editados. Verdadeiro começo da sua visibilidade
generalizada.
TEUS OLHOS
“Olhos do
meu Amor! Infantes loiros
Que trazem
os meus presos, endoidados!
Neles
deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus
anéis, minhas rendas, meus brocados.
Neles
ficaram meus palácios moiros,
Meus
carros de combate, destroçados,
Os meus
diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe
d'Além-Mundos ignorados!
Olhos do
meu Amor! Fontes... cisternas...
Enigmáticas
campas medievais...
Jardins de
Espanha... catedrais eternas...
Berço
vindo do Céu à minha porta...
Ó meu
leito de núpcias irreais!...
Meu
sumptuoso túmulo de morta!...”
(Florbela Espanca.)
CRONOLOGIA
1894: No princípio da madrugada
de 08 de dezembro, nasce em Vila Viçosa (Alentejo), Florbela d’Alma da
Conceição Espanca, na casa de sua mãe Antônia da Conceição Lobo, à Rua do
Angerino. O pai, o republicano João Maria Espanca, casado com Mariana do Carmo inglesa,
providenciará para que a esposa se torne madrinha de batismo da filha, em 20 de
junho de 1895, oferecendo-lhe como padrinho o amigo Daniel da Silva Barroso. Embora
nos registros da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa conste
Florbela ser “filha ilegítima de pai incógnito? Será a menina criada pelo pai e
pela madrasta desde o nascimento. Igual procedimento se verá da parte de João
Maria para com Apeles, o único irmão da poetisa, filho da mesma mãe e do mesmo
pai, que vai nascer em 10 de março de 1897. Também como Florbela, Apeles será
registrado “filho ilegítimo de pai incógnito.
1899: Florbela frequenta a
escola primária em Vila Viçosa. O pai viaja muito, trabalhando, nessa altura,
como antiquário, e já em 1900, torna-se um dos introdutores do cinematógrafo em
Portugal, projetando, por todo o país, filmes em salas particulares, graças ao
recém adquirido “Vitascópio de Edson? A paixão pela fotografia o levará também,
a abrir um estúdio em Évora, o “Photo Calypolense de J. M.. Espanca? Despertando
na filha o gosto pelo retrato e elegendo-a o seu modelo predileto, visto que a iconografia de Florbela
Espanca,
sobretudo a da sua lavra é bastante farta. João Maria Espanca e o pai de
Milburges Ferreira (amiga e vizinha Buja, também afilhada de Mariana Inglesa)
serão, como republicanos ferrenhos, num tempo em que tal era suspeito,
perseguidos ao longo de diversas ocasiões, como inimigos do regime monárquico.
1903: Data de 11 de novembro o
poema “A vida e a morte? Provavelmente a primeira peça escrita por Florbela, e
a poesia parece ter-se constituído, na infância da jovem, num meio particular
de aproximação com os outros, espécie de doação generosa de si mesma, de
original presente que ela oferece, sobretudo ao pai e ao irmão, ambos os foco
de seu carinho e de toda a sua atenção.
1908: O rei D. Carlos e o
príncipe herdeiro D. Luís Felipe são, em 1º de fevereiro (dia do aniversário de
João Espanca), assassinados em Lisboa, quando voltavam do Palácio Ducal de Vila
Viçosa (residência de férias da Coroa), e este é um dos acontecimentos que vão
precipitar a instauração revolucionária da República em 05 de outubro de 1910. Florbela
ingressa no Liceu de Évora, onde permanece até 1912, de modo que a família
muda-se nesse ano para Évora, a fim de facilitar-lhe a permanência nos estudos.
Ainda em 1908, falece em Vila Viçosa, a terra natal que a regressara, Antônia
da Conceição Lobo, então com vinte e nove anos de idade.
1913: Florbela batiza, em 08 de
maio, o primo Túlio Espanca a quem se dedicará sempre com desvelos de assídua
madrinha. Este, recentemente falecido, tornar-se-á editor de A Cidade de Évora
e importante autoridade nos meios intelectuais portugueses, graças à sua
competência de profundo conhecedor de história da arte, vogal das Academias
Portuguesas de História e Nacional de Belas Artes, tendo sido encarregado de
elaborar, dentre outras obras, o Inventário Artístico de Portugal- Distrito de
Évora. No dia do seu aniversário, Florbela casa-se, na Conservadoria do
Registro Civil de Vila Viçosa, com Alberto de Jesus Silva Moutinho, um ano mais
velho que ela, rapaz que, desde o primário era seu colega de estudos.
1914: Logo em janeiro, Florbela
e o marido vão morar em Redondo; ali atravessarão um período econômico difícil,
já que se sustentam dos parcos rendimentos das aulas particulares a alunos de Colégio. Por
isso, em setembro de 1915, o jovem casal regressará a Évora, para viver em casa
de João Maria Espanca e para dar aulas no Colégio de Nossa Senhora da
Conceição. Por essa época, Mariana Inglesa já se acha doente (ela morrerá em
dezembro de 1925), e o pai de Florbela, sob os olhares complacentes da mulher,
vive livremente na mesma casa com a empregada Henriqueta de Almeida. João Maria
vai divorciar-se de Mariana em 09 de novembro de 1921 e casar-se com Henriqueta
em 04 de julho de 1922. Em 03 de julho de 1954, João Maria Espanca virá a
falecer, depois de, na Conservadoria do Registro Civil de Vila Viçosa, ter
perfilhado Florbela em 13 de junho de 1949.
1916: Em meados de abril de
1916, vivendo novamente em Redondo, Florbela seleciona, dentre a sua produção
poética cerca de trinta peças produzidas a partir de 10 de maio de 1915, com as
quais inaugura o projeto e o manuscrito Trocando Olhares. Esse caderno (32,2 X
11 cm), contendo capa dura e apresentando quarenta e sete folhas, encontra-se
hoje depositado no seu espólio da Biblioteca Nacional de Lisboa. Compreende
oitenta e oito poemas e três contos e parece se impor, da maneira como
subsiste, como uma expressiva? Oficina literária? Acolhendo projetos poéticos
de distintas naturezas, anotações, refundições de poemas em páginas que por
vezes, se assemelham a palimpsestos. Prestou-se ele também como matriz a duas
antologias dali retiradas na altura, como importante foco irradiador de peças
que emigrarão refundidas, para o Livro de Mágoas e para o Livro de Sóror
Saudade,
e, enquanto campo temático, como precioso propulsor para o restante da obra de
Florbela. Datam também de 1916, os primeiros esforços da jovem poetisa para ser
publicada, e a sua correspondência com Madame Carvalho, diretora do suplemento
“Modas e Bordados? De O Século de Lisboa, tem início em 08 de janeiro desse
ano. Ao longo de 1916, Florbela inicia colaboração no mencionado Suplemento, em
Notícias de Évora e em A Voz Pública de Évora. Muitos desses poemas, enviados a
Júlia Alves (com quem enceta correspondência a partir de junho de 1916 e que se
alonga até 05 de abril de 1917), serão recuperados e publicados no póstumo
Juvenilia. Portugal inicia a sua intervenção na Primeira Grande Guerra Mundial
em 09 de março de 1916, e Florbela, entusiasmada com a causa republicana,
começa a partir de princípio de junho, a se ocupar de um novo projeto poético, A Alma de Portugal,
em “homenagem humilíssima à pátria que estremeço, Como o registra a sua
correspondência e segundo o atestam os poemas do referido manuscrito. Logo após
18 de julho, ela está enviando a Raul Proença, por meio do pai, que é amigo de
Luís Sangreman Proença (irmão do intelectual republicano), a sua antologia “Primeiros
Passos”. A apreciação do importante Conservador da Biblioteca Nacional de
Lisboa, de que Florbela toma conhecimento nos dias imediatamente anteriores a
12 de agosto, será fundamental para o auto reconhecimento do que produzia até
então, bem como valiosa para a definição da sua personalidade poética. O exame
do parecer de Proença demonstra ter sido ele o único crítico efetivamente
competente com que Florbela deveras dialogou com o acontecimento
verdadeiramente isolado nos minguados horizontes literários da sua existência.
A crer nas únicas duas peças da correspondência de Florbela com o republicano
(depositada no espólio de Proença na Biblioteca Nacional de Lisboa), a
interlocução crítica que com ele manteve deve ter-se alongado pelo menos até
1927 (quando Proença foi exilado em virtude de sua publicação primeiro panfleto
contra a ditadura militar, e foi decisiva para o engendramento e seleção dos
sonetos que perfariam o Livro de Mágoas e, quem sabe, também o Livro de Sóror
Saudade,
visto que nessa obra se acham traços da continuada epistolografia (o Prince
Charmant…, é a ele dedicado, tendo sido antes publicado, em 1º de agosto de
1922, no n.º 16 da Seara Nova, revista literária que se tornou o símbolo da
resistência ao salazarismo e do qual Proença era um dos fundadores e integrantes
do corpo diretivo). Por volta de 28 de julho, Florbela reavalia o seu
manuscrito e elege peças que, ao lado de outras que comporá, perfarão mais um
dos seus projetos poético: O Livro d’Ele. Em outubro do mesmo ano, a poetisa
está de volta a Évora como explicadora no mesmo Colégio. Por essa altura,
engendra um novo projeto poético, indicado no manuscrito, apenas pelo título
das duas partes que o compõe: Minha Terra, Meu Amor, condensando nele a
essência dos abandonados Alma de Portugal e O Livro d’Ele. Apenas em novembro
retoma o liceu interrompido, de maneira que concluirá o Curso Complementar de
Letras em 24 de julho de 1917.
1917: Florbela encerra o
manuscrito Trocando Olhares em 30 de abril desse ano (quando se dá a mencionada
interlocução com a poética de Américo Durão), regressando posteriormente a ele
para anotações acerca de uma nova antologia, a Primeiros Versos (provavelmente
destinada à leitura de Raul Proença), e para rascunhar refundições de poemas
presentes ou não no caderno.
Apeles, que tem dotes artísticos e que pratica sensivelmente a pintura, está
seguindo carreira oposta em Lisboa: em 19 de agosto, termina o Curso da Escola
Naval, graduando-se aspirante. Em 09 de outubro, Florbela, vivendo desde
setembro na capital do país subsidiada pelo pai, matricula-se na Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, que abandonará em meados de
1920: dentre os trezentos e
quarenta e sete alunos inscritos, é de apenas quatorze o número de mulheres.
Conhecerá aí José Schimidt Rau, Américo Durão, João Botto de Carvalho, por
intermédio de Apeles, que também se aplica em mostrar para a irmã a vida
artística de Lisboa, acompanhando-a na visita a exposições. Embora Florbela
tenha sido colega de Alfredo Pedro Guisado na Universidade, ligado, portanto,
ao grupo Orpheu, não há nenhum indício de que ela tenha tomado conhecimento da
existência do Modernismo em Portugal nem dos seus mentores, embora a temática
da “despersonalização atravessasse, mas como condição feminina, a sua obra,
que, nesse aspecto da “fragmentação, aparenta-se sobretudo com a de Mário de
Sá-Carneiro.
1918: Em abril, Florbela que se
encontra adoentada, vai com o marido a Quelfes (Algarve) para repouso,
permanecendo o casal hospedado em Olhão, na casa de Dorothea Moutinho. A carta
que envia dali a Proença, em 07 de maio, atesta a efabulação do volume que se
tornaria O Livro de Mágoas.
1919: Em junho vem à luz, pela
Tipografia Maurício de Lisboa, o “O Livro de Mágoas, dedicado” “A meu Pai”. Ao
meu melhor amigo? E querida Alma irmã da minha. Ao meu irmão e, já em seguida,
Florbela começa a trabalhar num novo projeto que, entre essa data e pelo menos
o final de 1922, terá seu título oscilando entre Livro do Nosso Amor e Claustro
de Quimeras, conforme o atestam dois diferentes manuscritos depositados na
Biblioteca Nacional de Lisboa. Durante toda a fase em Lisboa que
intermitentemente, se prolonga até novembro de 1923, Florbela está sempre em contato com Buja, que
ali reside então, e trabalha como explicadora particular de português. Data de
tal experiência profissional a amizade com Aurélia Borges que, após sua morte e
por ocasião do moroso affaire, se transformará em empenhada defensora da causa
florbeliana, publicando, entre outras obras, o Florbela Espanca e sua obra (1946).
1921: Apeles é graduado
guarda-marinha pela Escola Naval. Em 30 de abril é decretado, em Évora, o
divórcio de Florbela com Moutinho. Em 29 de junho, Florbela se casa, na
Conservadoria do registro Civil do Porto, com o alferes de artilharia da Guarda
republicana, Antônio José Marques Guimarães, então com 26 anos, e o novo casal
vai residir naquela freguesia, transferindo-se, em março de 1922, para uma
Quinta na Amadora e, já em junho do mesmo ano, para Lisboa.
1922: Apeles que está em vias de
tornar-se segundo tenente, presta serviços no cruzador “Carvalho Araújo, que
transporta, de Portugal para o Brasil, um dos aviões utilizados para a célebre
travessia aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Corresponde-se assiduamente
com a irmã, que acompanha pelos jornais os acontecimentos e que conserva fotos
da façanha, em algumas das quais Apeles se acha presente. Também das incursões
do cruzador pela África o irmão lhe dá notícias em cartas bem-humoradas, em que
se compromete, por exemplo, a trazer, das caçadas pelo interior de Luanda, umas
“penas para um chapéu para Bela.
1923: Em janeiro vem a lume pela
Tipografia A Americana de Lisboa o Livro de Sóror Saudade, refundição dos dois
manuscritos anteriores: as provas tipográficas do volume se acham depositadas
na Biblioteca Nacional de Lisboa. Também lá se encontram, entre recortes ou
apreciações manuscritas de outrem a respeito da publicação do Livro de Mágoas, sete peças; a propósito
do Livro
de Sóror Saudade
outras sete, além de duas outras que atestam comentários de passagem sobre a
sua poesia-que Florbela conservou. Tal montante certifica, pois, que ela
acompanhou com atenção, recortando e guardando para si, a pífia repercussão das
usas obras. Em novembro, a poetisa se encontra novamente adoentada e segue para
Gonça (Guimarães) a fim de tratar-se.
1924: A 4 de abril, em Lisboa,
Antônio Guimarães entra com o pedido de divórcio contra Florbela
Espanca,
na 6ª Vara Cível, que será deferido em 23 de junho de 1925. Em setembro de
1925, Antônio Guimarães se casa com Rosa de Oliveira Roma Leão e, muito mais
tarde, ele fundará em Lisboa uma importante agência, a de “recortes, que se
aplica em através de assinaturas, enviar para os respectivos autores qualquer
matéria publicada que lhes diga respeito. Não deixa de ser curioso que o
espólio pessoal de Antônio Guimarães se componha do mais abundante material que
sobre Florbela se publicou desde 1945 até 1981, ano em que faleceu em Lisboa:
são cerca de cento e trinta e três recortes.
1925: Em 15 de outubro, ela se
casa, na Repartição do registro Civil de Matosinhos (e a 29 do mesmo mês na
Igreja do Bom Jesus de Matosinhos), com Mário Pereira Lage, médico que contava
então trinta e dois anos, passando o casal a residir em Esmoriz e
transferindo-se em junho de 1926, para a casa dos pais de Lage, em Matosinhos
(Porto). Data dessa época uma foto sua, ao lado e outras senhoras numa campanha
para angariar fundos para a Cruz Vermelha.
1926: É publicado o decreto
ditatorial, com força de lei, que dissolve o Congresso da República. Apeles
gradua-se primeiro-tenente da Marinha.
1927: Durante esse ano, Florbela
começa a colaborar no D. Nuno de Vila Viçosa (cujo diretor é José Emídio
Amaro), e os poemas ali estampados são por ela indicados como pertença de
Charneca em Flor. Inicia também o seu trabalho de tradutora de romances
franceses para a Civilização do Porto, função que desempenhará até a morte, e
em 15 de maio, numa carta a José Emídio Amaro, dá notícias de Charneca em Flor,
que diz ter pronto, e de um livro de contos que está preparando, provavelmente
O Dominó Preto. Em vôo de treino com o hidroavião Hanrior 33, em 06 de junho,
Apeles mergulha no Tejo, diante de Porto Brandão, cumprindo, presumivelmente, a
decisão que expusera a irmã em carta imediata a morte da noiva (Maria Augusta
Teixeira de Vasconcelos), ocorrida em dezembro de 1925. Florbela reage
heroicamente pondo-se a produzir com afinco um livro de contos, à memória dele
dedicado - “A meu Irmão, ao meu querido morto, o As Máscaras do Destino. Mas
desde então, embora continue a colaborar no D. Nuno, a escrever poemas que provavelmente, já
constituem o póstumo Reliquiae; embora se esforce por
fazer publicar o último livro de contos, e embora permaneça com a tarefa das
traduções - ela se declara quase permanentemente deprimida, doente dos nervos,
fumando em demasia e emagrecendo sensivelmente.
1930: Inicia a colaboração no
recém-fundado Portugal Feminino com poemas e contos, na revista Civilização e
no Primeiro de Janeiro, ambos de Porto; deslocando-se de vez em quando para
Évora ou para Lisboa, onde participa das reuniões da revista feminina (e há
mesmo uma foto publicada na altura pelo Portugal Feminino, que registra esse
acontecimento, na qual Florbela se acha presente ao lado de outras intelectuais
e feministas, como Elina Guimarães, Maria Amélia Teixeira, diretora da revista,
Branca da Gonta Colaço, Ana de Castro Osório, Alice Ogando, Maria Lamas,
Thereza Leitão de Barros, Laura Chaves e Fernanda de Castro).
O seu Diário do último ano, encetado em 11 de janeiro, dá conta do estado de
solidão em que Florbela está mergulhada: “O olhar dum bicho comove-me mais
profundamente que um olhar humano. Há lá dentro uma alma que quer falar e não
pode, princesa encantada por qualquer fada má. Num grande esforço de compreensão,
debruço-me, mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão: tu que queres? E os
olhos respondem-me e eu não entendo…. Ah, ter quatro patas e compreender a
súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar! Afinal…de que tendes vós
orgulho, ó gentes. E certamente não é em vão que Florbela se faz acompanhar,
durante esse último percurso, por essa imagem: não é o cão mitológico guardião
da morte. Em 18 de julho, dá início à correspondência com Guido Battelli, que,
entre 18 de novembro até a última peça, de 5 de dezembro, apenas registra a sua
preocupação pelo aspecto estético e comercial do Charneca em Flor, que se
encontra no prelo, e pelas provas tipográficas da obra, das quais ela chaga a
revisar mais de uma dúzia de folhas. Seu Diário se encerra em 02 de dezembro
com uma única frase “e não haver gestos novos nem palavras novas! Na passagem
de 07 para 08 de dezembro, Florbela d’Alma da Conceição Espanca suicida-se em
Matosinhos e é enterrada, no mesmo dia 08, no Cemitério de Sedin. Seus restos
mortais serão, em 17 de maio de 1964, transportados para o Cemitério de Vila
Viçosa, “a terra alentejana a que entranhadamente quero como à terra natal tiveram oportunidade de se referir na
mencionada carta a José Emídio Amaro, em 15 de maio de 1927.
1.1
A
ARTE ETERNA DO ENCANTAMENTO SEGUNDO A POESIA DE FLORBELA
De acordo com os registros
oficiais, a poesia ganhou impulso e teria começando a existir como expressão de
arte na primavera de 534 a.C., na Grécia antiga, época em que as primeiras
tragédias foram encenadas, por decreto oficial, no Festival de Dioniso, em
Atenas e se difundiu no espaço sendo levada para toda a Europa, e daí para o
resto do mundo.
A poesia é caracterizada
como uma forma de expressão literária que surgiu simultaneamente com a música,
a dança e o teatro, em época que remonta à Antiguidade histórica. Ensaístas e
filósofos já se preocupavam, então, com a essência da poesia, numa tentativa de
desligá-la da matriz onde fermentara com outras expressões, que também foram
conquistando autonomia e passando, por características afins, à qualidade de
gêneros.
A poesia, ligada à
estrutura da narrativa, é a expressão artística que mais discussões têm
suscitado em relação à sua essência. Entre os filósofos gregos e os modernos
estudos da ensaísta norte-americana Susanne Langer há uma longa escala
interpretativa. Para ela, a poesia não é mais representativa, pois
desvinculou-se da preocupação de imitar a natureza. O inglês Herbert Read,
também, chega a conclusões semelhantes, quando estabelece a diferença entre
poesia e prosa: "na prosa, as palavras implicam, geralmente, a análise de
um estado mental, ao passo que na poesia as palavras aparecem como coisas
objetivas, que mantêm uma definida equivalência com o estado de intensidade
mental do poeta."
Poetas e leitores,
críticos e historiadores, teóricos e professores tem-se reportado, ao longo da
história, à poesia e ao poema, ora como coisas distintas, ora como coisas
identificadas. São inúmeras as tentativas de definição, mas nenhuma se apresentou com a universalidade e o rigor necessários à sua
afirmação estética, filosófica ou cientifica como a de Lyra. Para Pedro Lyra
(1986:06) a poesia é situada de modo problemática em dois grandes grupos
conceituais: ora como uma pura e complexa substância imaterial, anterior ao
poeta e independente do poema e da linguagem, e que apenas se concretiza em
palavras como conteúdo do poema, mediante a atividade humana; ora como a
condição dessa indefinida e absorvente atividade humana.
“Já na visão de Guilherme de Geir
Campos, "poesia é antes de tudo, comunicação efetuada por palavras apenas,
de um conteúdo psíquico (afetivo-sensório-conceitual), aceito pelo espírito
como um todo, uma síntese". Nesse conteúdo anímico predominará às vezes o
sensório, outras vezes o afetivo, outras o conceitual, pois o poeta ao
expressar-se nunca transmite puros conceitos, quer dizer, nunca transmite
conceitos sem mescla de sensorialidade ou sentimentalidade. ” (Bousono in
Campo, 1975:130).
Segundo o Novo Dicionário
Aurélio da Língua Portuguesa (2009), a poesia ainda pode ser definida como
"arte de escrever em verso, composição poética, inspiração, o que desperta
sentimento do belo". Contudo, a poesia prolonga e exercita em nossos
tempos a obscura e imperiosa angústia de posse da realidade, e cada poema nada
mais é do que uma armadilha onde cai um novo fragmento dessa mesma realidade,
onde o poeta se transporta completamente para esse novo cosmo em busca da sua
própria existência.
Mediante a tudo que fora
explicitado sobre poesia, pode-se afirmar que o poeta herda dos seus remotos
ascendentes uma ânsia de domínio, embora não há na esfera factual, pois o mago,
nele foi vencido e só resta o poeta, mago metafísico, evocador de essências,
ansioso pela posse crescente da realidade no plano do ser. Desta maneira,
Florbela Espanca pode ser considerada um exemplo concreto, pois apresenta de
forma original suas manifestações poéticas aquém da necessidade desse outro
ser, um inconsciente imaginativo a impulsionar os sentimentos desde seu íntimo.
1.2 A ETERNA BUSCA DA ARTE DE AMAR
ATRAVÉS DA POESIA FLORBELIANA
Baseado nesta ideologia, a
poesia de Florbela assume um eminente papel de exteriorizar o que há de mais
belo e extraordinário guardado em seu coração. Assim, a eterna busca pelo amor
ideal pode ser vista de forma intensa em suas palavras, algo naturalmente
humano, mas que nem todos têm a ousadia de externalizar. Amar e ser amado é tão
profícuo quanto a existência da alma que alimenta o próprio corpo, e quando a
ausência se faz presente destrói o sorriso mais puro de alegria. Esta ausência
chama-se solidão, caracterizada por uma dor profunda, fobia, incompletude,
vazio, escuridão e desistência.
Percebe-se em sua obra,
principalmente as publicadas a partir de 1918 a 1930, a predominância pelo uso
do soneto. Dentro desta pequena fórmula métrica e estrófica, ela se sente à
vontade para transmitir a sua perturbante e sombria interioridade. A sua poesia
é de um dos mais flagrantes exemplos de poesia "viva", pois ela
nasce, vibra e se alimenta do seu muito real caso humano; do seu porventura
demasiado caso humano.
Segundo Oliveira (1987:
50) é no canto de amor que Florbela constrói a sua melhor poética feita na
mistura de tristeza e ternura, de dor e de auto complacência, de pranto e de
projeção idílica, de desgraça e de vocação abençoada, nascido esse canto de uma
possibilidade malograda e compensado pela nostalgia cuja fraqueza e cuja força
vêm da fatalidade que o determina, como se pode observar ao longo dos versos do
poema "Cantigas leva-as o vento" de Florbela.
“A
lembrança dos teus beijos
Inda
na minh' alma triste,
Como
um perfume perdido,
Nas
folhas dum livro triste.
(...)
Amar a
quem nos despreza
È sina
que a gente tem. ”
Para Anthony Giddens
(1993:10), o amor pressupõe a possibilidade de se estabelecer um vínculo
emocional durável com o outro, tendo-se como base as qualidades intrínsecas
desse próprio vínculo. É o precursor do relacionamento puro, embora permaneça
em tensão em relação a ele. Fica evidente que para o autor é necessário se
manter um laço mais consistente entre os amantes, mas nem sempre esse desejo é
compartilhado e contínuo entre os seres humanos.
Verifica-se que
o amor é tratado, na obra florbeliana, como essência da vida, pois antes de se
buscar um alguém especial, visa-se viver um amor, como bem apresenta o verso
retirado do livro (Hora que passa, 1923), "minh’ alma sem amor é cinza e pó". Nesta perspectiva, o
amor é visto como um objeto de uma procura interminável que recomeça a cada
alvorada junto ao ser, dominado pelo sentimento do vazio.
O que
caracteriza Florbela Espanca é a insatisfação, a insaciabilidade, a ansiedade
de atingir seus objetivos, principalmente, os referentes ao coração. Poetisa do
amor como tantos outros, sobretudo através de suas atitudes amorosas, confessa
os "transportes" dos seus sentidos, sem timidez, pejo ou outro
elemento que a limitasse, ainda que uma vez ou outra por sólidos áridos. O que
evidencia que nasceu daí, então, suas infindáveis decepções, como se pode
observar nos versos que seguem retirados do poema "Realidade",
in "Charneca em Flor",),
onde a constituição do "Eu", do sujeito, parece serio centro
das preocupações dela nos poemas que se inscrevem nessa temática.
“Tens
sido vida afora o meu desejo
E
agora que te falo, que te vejo,
Não
sei se te encontrei... se te perdi....
Deus
fez-me atravessar o teu caminho.
- Que
contos dás a Deus indo sozinho,
Passando
junto a mim sem me encontrares?
Eu
ando a procura-te e já te vejo!...
E tu
já me encontraste e não me vês!...
(...)”
ANALISE I
Pode-se afirmar que a
poetisa sofre porque a sociedade não compreende o conflito íntimo e a
escorraça, por querer a realização de um amor que catalogam de imortal, sem lhe
compreender o alcance e a atitude. Mais que a hipócrita condenação social,
sofre a ausência dum "outro", ou melhor, do "outro", para
satisfazer-lhe a ânsia dum amor mais forte que a vontade e as convenções
burguesas, conforme denunciam as estrofes abaixo do poema "Amar", da obra Charneca em Flor (1930).
“Eu
quero amar, amar perdidamente!
Amar
só por amar: aqui... além...
Mais
Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar!
Amar! E não amar ninguém!
(...)
Quem
disser que se pode amar alguém
Durante
a vida inteira
É
porque mente!
(...)”
Dessa forma, a poesia de
Florbela mostra toda uma ampla gama de estados emocionais ligados ao amor,
desde a exaltação dos sentidos (entrega por inteiro), até ao desejo de
sacrifícios, oscilando entre momentos de plenitude e de grande fragilidade emocional,
decorrentes de relações amorosas frustradas ou que não corresponderam as suas
expectativas. Assim, para Florbela, amar é uma experiência única, é a força
impulsionadora da sua alma, e por isso quer amar, amar perdidamente.
Acrescenta, ainda, que a
paixão (além do amor, o ódio e a ignorância) é, justamente, a alienação do
desejo no objeto. Em sua face simbólica, diferentemente, o eixo do amor é
situado, não no objeto, mas naquilo que o objeto não tem. Como dom ativo,
o amor visa o ser, para além da captura imaginária, sustentando-se e
equivocando-se na trama significante. O que Lacan sublinha é, sobretudo, a
falta de harmonia fundamental entre sujeito e objeto. Como a linguagem, o amor,
em sua vertente simbólica, revela um esforço, sempre precário, de fazer frente
ao real da falta.
ANALISE II
A autora foi incumbida
pelo destino de encontrar o amor e, como não o encontrou, foi predestinada para
não o encontrar, foi predestinada para acabar em desilusão. A nomeação é também,
muito crítica na poesia de Florbela Espanca, e, como se pode observar neste
soneto, Florbela usa maiúsculas nas palavras o "Destino", a
"Vida" e o "Amor". Trata-se, portanto da personificação de
termos abstratos que são, obviamente, palavras-chave do soneto. Para Octavio
Paz:
"O amor é um estado de
reunião e participação aberto aos homens: no ato amoroso a consciência é como a
onda que, vencido o obstáculo, antes de se desmanchar, ergue-se numa plenitude
na qual tudo (...) alcança um equilíbrio em apoio sustentado em si mesmo (...)
Sem deixar de fluir o tempo se detém repleto de si" (1981:29).
Verifica-se através da
assertiva que o amor é uma construção conjunta, onde ambas as partes se
beneficiam de forma mútua e se completam, sem com isso um intervir na busca do
equilíbrio alheio, mesmo correndo os riscos de ser atingido por fortes
tempestades.
E, finalmente, mais tarde,
a legitima e orgulhosa inspiração poética de Florbela atinge seu verdadeiro
auge. Então, encontra-se suprema e verdadeira expressão no soneto "Mais Alto", in: Antologia de
Poetas Alentejanos.
“Mais alto, sim! Mais alto, mais além
Do sonho, onde morar a dor da vida,
Até sair de mim! Ser a Perdida,
A que se não encontra! Aquela a quem
O
mundo não conhece por alguém!
Ser orgulho, ser águia na subida,
Até chegar a ser, entontecida,
Aquela que sonhou o meu desdém!
Mais
alto, sim! Mais alto! A intangível!
Turris Ebúrnea erguida nos espaços,
À rutilante luz dum impossível!
Mais
alto, sim! Mais alto! Onde couber
mal da vida dentro dos meus braços,
Dos meus divinos braços de Mulher! ”
Visto isso, o escritor
Jorge de Sena, em seu livro intitulado "Florbela Espanca e a expressão do
feminino" (1947), chamou a atenção para este soneto de Florbela, pois o
que para muitos parece orgulho, megalomania, delírio, não é senão outro aspecto
do que ao mesmo tempo, incapacitou Florbela para a vida do mundo, e a
predestinou para a arte: o sempre
querer mais. Começando pelo vulgar sonho do amor de um, ei-la que chegou
ao amor, ao sonho do amor de um Deus, ao amor cósmico... E não é de crer que um
qualquer amor tivesse atingido, ou pudesse atingir descanso. Ela que logo no
poema "Eu" do Livro de
Mágoas escreveu estes versos extraordinários: "sou talvez a visão
que Alguém sonhou, alguém que veio ao mundo para me ver, e que nunca na vida me
encontrou!".
Uma outra forma de amor
que pode ser encontrada ao longo das belíssimas produções poéticas de Florbela
Espanca é o amor dedicado ao seu irmão Apeles, a quem dedicou com muito ternura
e cumplicidade desde a infância. Sua relação era muito próxima, pois trocavam
cartas íntimas sobre relações amorosas, e, outros sim, sobre a relação entre
si. Tal relação deu início a várias polemicas sobre incesto.
Contudo, a poetisa dedicou
nas suas obras a expressão de seu amor fraterno, em particular no poema "Roseira Brava".
“Há
nos teus olhos um tal fulgor
E no teu riso tanta claridade,
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.
Tuas
mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade;
E os teus beijos de sonho e de ansiedade
São como a alma a arder do próprio Amor!
Nasci
envolta em trajes de mendiga;
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de oiro de rainha!
Tua
irmã… teu amor… e tua amiga…
E também, toda em flor, a tua filha,
Minha roseira brava que é só minha! …”
Segundo Cláudia Alonso
(1997, p: 31-32), Florbela delineou, em seus versos, várias imagens de si, por
vezes diametralmente opostas. Subjacente a todas as imagens que ela constrói de
si mesma, está o problema da identidade feminina, pois a cada poema escrito e a
cada livro finalizado, um pouco mais de Florbela se revelava ao mundo. Através
de seus escritos, Florbela teve a ousadia de mostrar-se como mulher que
conclama o direito de sentir e dar prazer, embora só começasse a ser
publicamente reconhecida muitos anos depois.
Baseado no que fora
exposto, observa-se, então, que o amor em Florbela aparece em nuances variadas,
desde a exploração do amor incondicional, o arrebatamento amoroso, a louvação ao amor, sua valorização extremada,
até sua desvalorização pelo outro, ao qual sempre fora objeto de desejo, mas,
ironicamente, em sua essência nunca foi concretizado. Em suma, o universo
poético de Florbela Espanca admite muitas portas para desvendá-lo,
principalmente, quando se trata das suas múltiplas facetas relacionadas ao
amor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se pode observar, a
poesia florbeliana foi, portanto, em grande parte inspirada pela sua própria
vida e pelas relações que fizeram parte dela, pois é de uma grande
expressividade dramática, possui uma carga emocional que a torna diferente da
poesia contemporânea. Ela é a sua obra e a sua obra é ela, e em quase todos os
seus poemas existe uma prova flagrante dessa identificação absoluta, daí que se
tenha escolhido estas poesias como paradigma de um tempo e de uma ambiência
mental feminina.
Enfim, a preocupação com o
fazer poético nas poesias aqui estudadas cultiva uma reflexão, uma atitude de
questionamento e uma tentativa de tradução do sentimento. Por conseguinte, a
poesia de Florbela caminha para a fusão da vida e da poesia, numa incessante
busca da plenitude artística. E, quiçá, o processo de criação para atender às
pressões do inconsciente é que levaram Florbela a uma permanente angústia de
nunca conseguir expressar-se na proporção em que a força erótica de sua alma oculta
o exigia.
Florbela Espanca possuiu
como que uma predisposição para o sofrimento e por isso cultivou-o,
desenvolveu-o, deixou-o crescer ainda mais dentro de si, escrevendo e referindo
constantemente o passado, insistindo numa recordação saudosista exagerada. Destarte, não é fácil compreender tamanhas
sensações e sentir-lhes a beleza, mas ela está lá, num ponto que ultrapassa
muitos de nós, pois como a própria poetisa escreveu: "ser poeta é ser mais
alto, é ser maior do que os homens!".
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TRUFFAUT O, François. Cinema segundo François Truffauto. Editora Nova
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Ana Paula Quintanilha Bastos de Jesus, mestranda em Ciências da Educação pela UNIVERSITY UNIGRENDAL,
graduada em Letras pela Unisa, Pós-Graduada em Educação Especial Inclusiva pela
FGF – Faculdade Integrada da Grande Fortaleza, Complementação Pedagógica em
Artes Visuais pela Faculdade Uni-Ítalo. Tem sua experiência voltada para
Educação Especial, Professora de Espanhol pela Prefeitura Municipal de Embu das
Artes e de Artes no Estado de São Paulo. Apresentou um trabalho intitulado: Os
Entraves da Inclusão dos Alunos Surdos no Ensino Regular, no Congresso da
Faculdade Polis das Artes, tendo como titulo “Compartilhando Saberes: Sonhos,
Experiências e Possibilidades”, no Embu das Artes. Desenvolveu um trabalho
voltado para Inclusão na SAED – Sala de Apoio ao Estudante com Deficiência,
preparando material pedagógico para que os alunos possam interagir com todos
(Inclusão Social)